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sábado, 16 de março de 2013

Computador analisa marcha de cavalo com câmeras de alta velocidade

Raça dos campeiros é também conhecida como o marchador das araucárias.
O andar é tão macio que um cavaleiro consegue equilibrar um copo de leite.

O Brasil tornou-se um país privilegiado em cavalos. Não havia nenhum em 1500, quando Cabral chegou. Mas as tropas que os europeus trouxeram, aqui se adaptaram, se multiplicaram e, hoje, só de marchadores, temos seis raças oficialmente reconhecidas.
Existem basicamente cinco movimentos do cavalo. Tem o galope suave, que é chamado de cânter; e o veloz que leva à disparada. O passo, mais lento, faz ele sair da inércia, da parada, e é igual em qualquer tipo de raça.
 
Os movimentos intermediários dependem da coordenação motora do cavalo.
No trote, o animal se movimenta em diagonal: levanta ao mesmo tempo a mão de um lado e pé do outro. E troca. Dando tipo de um pulinho com um tempo de suspensão no ar.
Tem cavalo que sai do passo e entra na andadura. Faz movimento lateral, levanta de uma vez os membros do mesmo lado, depois, alterna com o outro.
 O de maior conforto para o cavaleiro é a marcha, de locomoção super elaborada. Na verdade, é o passo acelerado. São sequências do que os técnicos chamam de “tríplices apoios”, alternados com apoios laterais e diagonais.
No Haras da Marcha, em Itu, SP, da criadora Neringa Sacchi, os engenheiros eletrônicos Carlos Schelim e Adalton Toledo conduziram a pesquisa que resultou no aparelho batizado de Analoc - Analisador de Locomoção.
Trabalha com uma câmera de vídeo que filma o animal marchando numa pista plana. As imagens são interpretadas por um programa de computador que magnifica a visão da cena.
 
Schelim lembra que o olho humano enxerga um máximo de 30 quadros por segundo. Só que o cavalo mexe as patas muito mais rápido. O programa do computador extrapola a leitura para até 180 quadros por segundos.
 Adalton Toledo revela que um cavalo em marcha, a 12 km/h, numa única passada completa faz oito movimentos no curtíssimo espaço de meio segundo.
O gráfico do computador demonstra bem o diagrama do rastro: ele vai intercalando tríplices apoios com apoios laterais e diagonais. Sendo que a cada meio segundo chega a ficar quatro vezes com três cascos no chão.
Conclusão: na marcha, o animal passa 60% do tempo apoiado, nunca perdendo o contato com o chão.
 
Campeiro
O feito de uma cavaleira sulista de Santa Catarina, do município de Curitibanos, consegue impressionar. Embora montando um garanhão, que normalmente é mais fogoso que um castrado, Mariana Becker equilibra um copo com leite na copa do chapéu por quantas voltas quiser, tal é a maciez do andamento.
O garanhão é um típico representante da raça dos campeiros. O campeiro é o caçula entre os marchadores, pois é a raça reconhecida mais recentemente, em 1985, apesar de ter pelo menos 400 anos de história.
O campeiro surgiu na região das florestas de pinheiro, por isso, ganhou o título de “O Marchador das Araucárias”. Todo fim de semana, no Planalto Catarinense, o que restou dos pinhais serve de moldura para animadas e confortáveis cavalgadas.
 
Ivadi de Almeida tem 90 anos e ainda pratica montaria. É filho, neto, bisneto de tropeiros, criador e negociante de cavalos. A descoberta do cavalo campeiro como raça se deu por acaso. Ivadi foi a São Paulo em 1964 com a intenção de trazer um garanhão para fazer melhoramento genético. Em uma exposição de mangalarga, ele acordou para o fato que o plantel de campeiro era único e não era bem o mangalarga como pensava.
 
Ele conta que a diferença principal é a origem, mais espanhola que portuguesa, e remonta ao ano de 1541.
O aventureiro Alvar Nuñes, o Cabeza de Vaca, foi nomeado governador da Província do Prata pelo rei da Espanha. Na viagem, parou em Florianópolis e seguiu por terra atravessando Santa Catarina até Assunção, no Paraguai. Da tropa que Cabeza de Vaca tinha trazido, alguns animais se desgarraram, outros foram cruzando com éguas fugidas dos primeiros criatórios argentinos e assim formou-se a base da raça que espontaneamente se desenvolveu nas montanhas de araucárias.
Quando Ivadi pediu a vistoria do Ministério da Agricultura, em 1985, os técnicos prontamente reconheceram a raça.
Um cavalo robusto, rústico, nem alto nem baixo, estatura média de 1,48 m, e um corpo que se encaixa perfeitamente no padrão internacional do animal de sela: o formato quadrado com proporções bem equilibradas de membros e linha de dorso.
 
Beatriz de Almeida, presidente da Associação dos Criadores do Cavalo Campeiro, lembra que o marchador das araucárias foi selecionado na lida do campo. É bom de serviço, cerca muito bem o gado e faz com perfeição a corrida para laçada. A raça hoje se expande em fazendas de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
 
 
Texto na íntegra com vídeo: