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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Marcha do cavalo é definida pelo código genético de cada raça

A raça pêga tem uma grande capacidade de transmitir o andar marchado.
Modernização da raça campolina deixa o animal menor e mais leve.


Entre as raças marchadoras brasileiras, há uma que não é de equinos, mas de asininos, a família dos asnos, das mulas e dos burros. O berço do jumento pêga é o município de Lagoa Dourada, na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.

Em 1810, o padre Manuel Torquato experimentou cruzar jumentos das raças egípcia e siciliana. Depois de quase 40 anos de seleção, vendeu a tropa para o coronel Eduardo Resende que vivia na fazenda Engenho dos Cataguases. O coronel levou em frente a criação, padronizou, multiplicou a nova raça, perpetuando inclusive a mesma marca que o padre Torquato usava: o desenho de uma algema de escravos que era chamada de pêga.
 
O pêga guarda a marca ancestral que, na cultura cristã, lembra que o jumento é um animal sagrado. É a faixa crucial, que corta o fio do lombo do animal e desce pelos ombros. Na fuga para o Egito, Maria vai montada num jumento. O sinal cruzado seria o indicativo do xixi do menino Jesus.

Para o veterinário Rivaldo Nunes, da Associação Brasileira dos Criadores do Jumento Pêga, esta raça tem uma extraordinária capacidade de transmitir o andamento marchado. Quando se quer muar de marcha é o cruzamento recomendado. Para quem o assunto não é familiar, a gente lembra que é cruzando asinino com equino que se produz mulas e burros.

Mesmo com toda a mecanização que tem havido no Brasil nas últimas décadas, é grande ainda a demanda pelas tropas de muares. Animais de sela confortáveis e resistentes para cavalgada e todo tipo de serviço.

Campolina Das raças marchadoras brasileiras, a maior de todas é a campolina. O nível do dorso do animal tem quase a estatura de uma pessoa mediana. O conjunto cavalo-cavaleiro passa dos dois metros de altura. O cruzamento de éguas brasileiras com reprodutores de origem europeia, no tempo do império, gerou a raça conhecida como grande marchador brasileiro.

Campolina era o sobrenome de um fazendeiro, Cassiano, que, na segunda metade do século 19, morava em Entre Rios de Minas, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte. Seu Cassiano vivia na propriedade conhecida como Fazenda do Tanque. Rico, em 1860, ele ficou desgostoso quando perdeu uma cavalhada, a tradicional batalha folclórica entre mouros e cristãos. Resolveu, então, criar uma raça de cavalos mais altos e mais fortes para se sair melhor em futuros embates. No que foi ajudado pelo Imperador, que lhe mandou de presente uma égua por nome Medeia, prenha de um andaluz. Medeia pariu um potro espetacular, o lendário Monarca que veio a ser o padreador da Campolina, cujo sangue corre até hoje nos garanhões da raça.

Doutor Múcio Salomão, veterinário há 34 anos da Associação dos Criadores de Cavalo Campolina, explica que os cruzamentos resultaram em características marcantes: uma delas a cabeça grande, acarneirada; as orelhas em forma de ponta de lança; o pescoço levemente rodado; o dorso amplo; a garupa bem musculada e, apesar do porte, muita suavidade no andamento.

Oferecendo tanto a marcha batida, de dois tempos, cujo barulho se assemelha ao trote, mas tem o conforto do tríplice apoio. Bem como a marcha picada, de quatro tempos, mais apoiada no chão. O curioso é que Cassiano Campolina fez a nova raça mas morreu antes da desforra na cavalhada. Generoso, deixou toda a fortuna para a construção de um hospital, já centenário e ainda uma referência na área de saúde em toda a região de Entre Rios de Minas.

A tropa que formou, Cassiano Campolina a deixou para um amigo, Joaquim Pacheco Resende. Foi esse outro ramo da família Resende que impulsionou a raça: fez intercâmbio com vizinhos e desenvolveu linhagens. Destacando-se entre as principais as linhagens Gás e Passatempo.

Ultimamente, o campolina vem passando por uma evolução. No Estado do Rio de Janeiro, município de Papucaia, o empresário Cláudio Cunha, um dos criadores que experimentam modernizar a raça, fez uma aposta na contramão da estética: em vez das pelagens sólidas predominantes baia e castanha, passou a selecionar só o animal pampa.
 
Vem trabalhando não só a cor mas, como outros criadores, também a própria estrutura da Campolina: a cabeça ficou mais leve, o pescoço menos rodado e o porte, que chegou a 1,75m de altura, ficou mais baixo. O que antes era rejeitado, virou moda. Com a tropa colorida no pasto, o criatório de Cláudio Cunha já foi oito vezes campeão nacional.

Reportagem na íntegra com vídeo:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

MÊS MANGALARGA MARCHADOR

Cavalo junqueira chegou a fazer parte das tropas imperiais de Dom Pedro I

Conhecido hoje como mangalarga, animal derivou duas raças distintas.
Conheça também o piquira, cavalo pequeno usado para equitação infantil.
Fazenda Bom Destino, município de Rio Novo, perto de Juiz de Fora, Minas Gerais. Este é um dos raros criatórios onde ainda se encontra tropa de piquira.


A raça deu uma esfriada, ultimamente, como explica Carlos Oscar Niemeyer, que vem a ser neto do arquiteto que ajudou a criar Brasília. A lida na fazenda, que cria gado guzerá, é feita com o piquira. É ágil, bom de manobra, cumpre o serviço como um cavalo grande faz.

A palavra piquira vem do tupi e quer dizer pequeno. Ele é menor que um jumento pêga e maior que o pônei europeu. No tamanho perfeito para o ensino da equitação infantil.

A belga Françoise Denis, que montou escolinha para crianças tanto na Hípica de São Paulo como do Rio de Janeiro, não precisou importar mais pôneis depois que conheceu o piquira. Se presta tanto à equitação básica como a avançada. Inclusive, é bom de salto.

Carlos Oscar explica que o piquira se originou de vários cruzamentos desordenados. Os fazendeiros foram selecionando os de menor porte até formar a raça. O padrão de altura é de um 1,20 m. Tem a frente leve, é bem aprumado e de angulações proporcionais.

Junqueira
Em outra cavalgada, desta vez no sul de Minas Gerais, um marchador que deveria ser chamado de cavalo Junqueira, mas acabou ganhando o nome de mangalarga, derivando-se para duas raças. É uma história que começa em 1750.


O roteiro segue a Estrada Real, uma série de caminhos abertos ainda no tempo da exploração do ouro. No município de Cruzília, 263 anos atrás, um empreendedor português, de nome João Francisco Junqueira, conseguiu da Coroa uma imensa faixa de terras. Ali ele plantava, criava gado e cavalos.

Como não havia cavalos nas américas, os colonizadores foram trazendo tropas da Europa a cada viagem de caravela. Os espanhois espalharam cavalos na região onde fica hoje a Argentina, o Uruguai e sul do Brasil. Os portugueses levaram para São Paulo, Rio de Janeiro e todo o Nordeste. Os holandeses para Pernambuco. Os franceses também trouxeram. Esses animais foram se espalhando, inter-cruzando, de modo que, em meados do século 18, já era intenso o comércio de tropas no país.

O que o pioneiro Junqueira fez foi aprimorar o negócio contando com tropas marchadoras já selecionadas, como a eguada da fazenda Angahy, uma linhagem agora com mais de 300 anos. A sede da Angahy, de 1731, ainda está de pé. Ali morava a família Meirelles. Os Meirelles foram se casando com os Junqueira, misturando sangue, terras e cavalos. Quem passa por Cruzília hoje se impressiona com a quantidade de criatórios de cavalos que a região tem: são mais de 200 num raio de 100 quilômetros.

Coube a Gabriel Francisco Junqueira a fama por ter mudado a história da criação de cavalos. Ele foi deputado e chegou a receber o título de Barão de Alfenas.Na versão mais divulgada da formação dos mangalargas, o Barão ganhou do imperador um imponente garanhão da raça Alter, a mesma que Dom João VI tinha trazido quando montou a primeira coudelaria no Rio de Janeiro.

Originalmente, o Alter Real não marcha. Essa característica veio da mistura com as tropas do Sul de Minas. Os cavalos no Brasil ganharam porte, altivez, elegância, mas mantiveram a marcha, caracterizando, assim, uma nova raça que foi usada na cavalaria imperial brasileira. Uma bela construção, que ultimamente serviu de pousada, foi construída por Dom Pedro I para abrigar a Coudelaria de Cachoeira do Campo, perto de Ouro Preto. Por volta de 1820, junto com garanhões de nobre procedência europeia, se usava também o cavalo oficialmente descrito como cavalo junqueira.

Na verdade, não era de um tipo só: na região de Cruzília, foram desenvolvidas várias linhagens. Na fazenda colonial Bela Cruz, fundada em 1784 e cuja sede acaba de ser restaurada, surgiu a linhagem justamente chamada de bela cruz. Animais de cabeça delicada e orelhas pequenas, diferentes das orelhas mais alongadas da linhagem angahy que tem como marca registrada o olho cor de caramelo. De outra propriedade, a Campo Lindo, saiu a linhagem JB, de acabamento geral bem refinado, genética das mais difundidas no Sul de Minas.

Reportagem na integra com vídeo:
http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2013/01/cavalo-junqueira-chegou-fazer-parte-das-tropas-imperiais-de-dom-pedro-i.html